S. Martinho nas IPSS – Projeto “Leitura das Memórias”

O Dia de São Martinho, celebrado a 11 de novembro, é uma tradição secular em Portugal. Em muitas regiões, marca-se com magustos, vinho novo, água-pé, jeropiga e castanhas assadas. Como diz o provérbio: “No dia de S. Martinho, lume, castanhas e vinho”. Novembro traz dias curtos e frios, que convidam a roupas quentes e momentos acolhedores. Outro provérbio popular lembra-nos: “Se o inverno não erra o caminho, tê-lo-ei pelo São Martinho”. Esta época simboliza, portanto, o regresso de algum calor e conforto — físico, mas também cultural — através de histórias, quadras, adivinhas, canções, provérbios e tradições transmitidas de geração em geração.


Acredita-se que o chamado “verão de São Martinho” tem origem numa lenda antiga. Num dia frio e chuvoso, o cavaleiro Martinho cortou a sua capa ao meio para aquecer um mendigo. Como recompensa, a tempestade abrandou e raios de sol surgiram, prolongando o bom tempo por três dias — os famosos “três dias e mais um bocadinho”. 


No âmbito do projeto ‘Leitura das Memórias’, a Biblioteca Municipal Miguel Torga dedicou as sessões de novembro às tradições de São Martinho, promovendo a leitura, a partilha e o contacto com a cultura local.

Durante as sessões, explorámos o papel da castanha na literatura portuguesa, presente em obras de Miguel Torga, Teófilo Braga, Aquilino Ribeiro, Camilo Castelo Branco, Jorge Lage e outros. Miguel Torga escreveu:

“Mas o fruto dos frutos, o único que ao mesmo tempo alimento e simboliza, cai de umas árvores altas, imensas, centenárias... Assada, no São Martinho, serve de lastro à prova do vinho novo. Cozida, no janeiro glacial, aquece as mãos e a boca dos pobres e ricos. Crua, engorda os porcos, coma vossa licença...”

 

Também partilhámos o poema de Ary dos Santos, dedicado ao “homem das castanhas”:

Na praça da Figueira ou no jardim da Estrela

Num fogareiro aceso é que ela arde

Ao canto do outono, à esquina do inverno

O homem das castanhas é eterno…

Quem quer quentes e boas?

A estalarem cinzentas, na brasa.

Quem quer quentes e boas, quentinhas?

Quem compra leva mais amor para casa.

 


Falámos ainda da castanha na gastronomia, um verdadeiro “pão de antigamente”, como refere Jorge Lage, essencial em tempos passados. Nas diferentes IPSS, explorámos tradições como o vinho novo, a água-pé, a jeropiga e o convívio em torno das castanhas. Os utentes tiveram a oportunidade de degustar deliciosas castanhas, gentilmente oferecidas pelo Município de Arganil. Como Camilo Castelo Branco lembra em Anâtema, as castanhas ajudam a marcar o tempo e os ciclos da vida.

Foram momentos de partilha, aprendizagem e boa disposição, em que história, tradição e alegria se encontraram, levando às pessoas idosas as pequenas grandes memórias do São Martinho. 


Fica aqui um breve registo fotográfico destas sessões!

Centro Social e Paroquial do Sarzedo

Santa Casa da Misericórdia de Vila Cova do Alva

Santa Casa da Misericórdia de Arganil

São Martinho da Cortiça

Pombeiro da Beira

Côja 2

Côja 1

Cerdeira e Moura da Serra

Cepos

Benfeita

Barril de Alva

Assistência Folquense

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