Maio: O Elogio da Natureza e das Tradições

Maio é um mês especial.

Chega envolto em luz, cores e cheiros que despertam memórias antigas e celebrações profundamente enraizadas na nossa cultura. Em Arganil, como em tantas outras regiões, este é um tempo de homenagem à natureza, às tradições e às histórias que nos foram passadas de geração em geração.

Durante este mês, no âmbito do projeto Leitura das Memórias, levámos até aos utentes das IPSS do concelho duas tradições marcantes do nosso património cultural: as Maias e a celebração da Quinta-feira da Ascensão, conhecida também como Quinta-feira da Espiga.

As Maias: Flores Contra o Mal

Conta a tradição que, na noite de 30 de abril para 1 de maio, todas as entradas das casas devem ser protegidas contra os maus espíritos com um ramalhete de flores amarelas — as chamadas flores de Maio, geralmente giestas.

A lenda remonta ao tempo da fuga do Menino Jesus para o Egito. Diz-se que, ao serem acolhidos por uma família, a sua localização foi denunciada com sangue de cordeiro na ombreira da porta. Para os proteger, os vizinhos imitaram o gesto, marcando todas as casas da aldeia da mesma forma, confundindo assim os perseguidores. Com o passar dos séculos, o sangue foi substituído pelas flores amarelas — símbolo de proteção e esperança.

Hoje, essa memória sobrevive através da decoração das portas, janelas e varandas com giestas. No meio rural, é também comum colocá-las nos currais, para proteger os animais das doenças e dos males do inverno que se despede.

Em algumas localidades, surgem ainda os bonecos de palha, vestidos com trajes típicos e colocados à porta das casas ou até em árvores, como figuras simbólicas que celebram a vida e a renovação.

Quinta-feira da Espiga: Um Ramo Cheio de Significado

No dia 29 de maio, celebrou-se a Quinta-feira da Espiga, recordada pelos nossos utentes como um feriado religioso de grande respeito — um dia em que não se trabalhava e em que se colhia o tradicional ramo da espiga.

Cada elemento deste ramo tem um significado especial:

·         Espiga de trigo – representa o pão e a fartura

·         Malmequeres – simbolizam a prata e o ouro

·         Papoilas – são o amor e a vida

·         Oliveira – traz o azeite, a luz e a paz

·         Videira – representa o vinho e a alegria

·         Alecrim – é saúde e força

Este ramo, colhido no dia mais sagrado do ano, não precisa de bênção. É guardado em casa, junto da lareira ou num canto especial, como símbolo de proteção até ser substituído no ano seguinte. Em muitas comunidades, guarda-se também um pão desse dia, como sinal de fé e abundância.

Tradições Vivas que Unem Gerações

Apesar de, nas cidades, estas tradições se irem esbatendo, nas comunidades rurais continuam a fazer parte do dia a dia. São rituais que nos ligam ao passado, reforçando a nossa identidade, os nossos valores e o respeito pelas crenças dos que vieram antes de nós.

As sessões dinamizadas nas IPSS foram momentos de partilha viva, onde os saberes dos mais velhos se tornaram histórias contadas, sentidas e celebradas. Entre leituras, conversas e memórias, reforçámos aquilo que sempre acreditámos: os nossos seniores são verdadeiras bibliotecas vivas.

Deixamos aqui um breve registo fotográfico destes encontros, cheios de cor, memória e humanidade.

Assistência Folquense

Barril do Alva

Benfeita

Cepos

Cerdeira e Moura da Serra

Côja 1

Côja 2

Pombeiro da Beira

São Martinho da Cortiça

Santa Casa da Misericórdia de Arganil

Santa Casa da Misericórdia de Vila Cova de Alva

Sarzedo

Secarias


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