No passado dia 31 de Janeiro, a Prof. Maria da Graça Moniz, colaboradora e voluntária da Leitura da Biblioteca Municipal de Arganil presenteou-nos com um conto maravilhoso sobre "A Aventura da Rosa" o qual deixamos aqui registado.
A AVENTURA DA ROSA
Há muitos anos, havia numa aldeia da nossa serra, uma moça muito aventureira e que sonhava conhecer o nosso país. Assim que pode saiu da sua terra e de saca de retalhos à cabeça, onde levava duas mudas de roupa , pois mais não seria precisa ela aí vai.
Conforme ia andando lá arranjava uma casa, onde a troco do seu trabalho ganhava cama e mesa. Um dia foi servir uma casa de gente rica em que os seus patrões eram pessoas que viajavam muito e tal como a Rosa, pois era esse o seu nome, queriam conhecer Portugal. Estavam ali reunidas as condições ideais para que a nossa Rosa começasse a realizar o seu sonho.
Ao longo de alguns anos, lá foram andando de norte a sul, de este a oeste e até às ilhas do atlântico. Iam andando e conhecendo um pouco de cada região. Quando chegaram ao que diziam ser o fim do seu sonho a Rosa tinha conseguido aprender muito. Um pouco, daqui outro dacolá ajudaram-na a ficar mais conhecedora das terras que visitara.
Como a Rosa e os patrões gostavam muito de música popular portuguesa aprenderam uma música em cada região.
Do Minho trouxeram: “Santa Luzia dos meus olhares/ Santa Luzia bonita és/ Santa Luzia dos meus amores/linda Viana está a teus pés”
Do Douro: "Eu hei de ir ao Senhor da Pedra/ Ao Senhor da Pedra hei de ir/ Quem vai ao Senhor da Pedra/ Vai ao Céu e torna a vir"
De Trás-os-Montes: “Ó ferreiro casa a filha/ não a tenhas à janela/ passa o meu amor na rua/ e não tira os olhos dela/ vai tu, vai tu/ vai ela …”
Da Beira Litoral: “Coimbra do Choupal/ ainda és capital/ do amor em Portugal, ainda/Coimbra onde uma vez / com lágrimas se fez/ a história dessa Inês/ tão linda…"
Da Beira Alta: “Indo eu, indo eu/a caminho de Viseu/encontrei o meu amor/ai Jesus que lá vou eu”
Da Beira Baixa: “Senhora do Almurtão/a vossa capela cheira/cheira a rosas, cheira a cravos/cheira à flor de laranjeira"
Do Ribatejo: “Estas é que são as saias/ estas saias é que são/são cantadas e bailadas/na noite de S. João”
Da Estremadura: "O xaile de minha mãe/que me aqueceu com carinho/mais tarde serviu também/pr’agasalhar meu filhinho"
Do Alentejo: “Toda a vida fui pastor/toda a vida guardei gado/ tenho uma cova no peito/de me encostar ao cajado”
Do Algarve: “Tia Anica, tia Anica/ tia Anica de Loulé/ a quem deixaria ela/ a caixinha do rapé/ Olé, olá, esta moda não está má/olá, olé tia Anica de Loulé”
Da Madeira: “Deixa passar/ esta nossa brincadeira/ ca gente vamos bailar/o bailinho da Madeira”
Dos Açores: “Ponha aqui o seu pezinho/ ponha aqui devagarinho/se vai à Ribeira grande/eu tenho uma carta escrita/para ti cara bonita/não tenho por quem ta mande”
E tão ricos estavam culturalmente que decidiram ajudar a fazer um livro que se chama "Cancioneiro Popular Português" onde nós, ainda hoje, podemos aprender muita coisa.
A nossa Rosa era determinada e como ela muitos homens e mulheres da nossa serra, que saindo das suas pequenas aldeias foram gente importante e ilustre ao serviço dos seus pares e até de Portugal.
Arganil, 31 de Janeiro de 2019
Maria da Graça Moniz
História criada para o “Encontro Anual Leitura das Memórias" na Biblioteca Municipal de Arganil
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